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Quando era mais nova, Thaísa entrou na fase do “porquê” pois, como a maioria das crianças, ela estava curiosa sobre o mundo ao seu redor. As respostas dos seus pais costumavam ir na mesma direção: “Isso é assim porque alguém estudou e chegou neste resultado. Isso é fazer ciência.”

Alguns anos depois, em 2021, já como ecóloga e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Thaísa Sala Michelan foi reconhecida na categoria Ciências da Vida, do Programa "Para Mulheres na Ciência" (For Women in Science), iniciativa da Unesco, L'Oréal Brasil e Academia Brasileira de Ciências (ABC). A mesma Unesco que também implementou o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, celebrado em 11 de fevereiro.

“Quando a gente fala sobre Ecologia, nós temos as interações entre espécies, indivíduos, etc. Algumas dessas interações podem ser prejudiciais e outras são positivas, certo? Então meu conselho para as mulheres é praticar a união e a empatia. Eu tenho muito orgulho de quando uma mulher alcança algo, pois ali tem a força de muitas outras meninas e mulheres. O apoio mútuo torna o trajeto dentro da academia e da ciência menos doloroso”, comenta Thaísa.

Criada para fomentar o papel de mulheres e meninas na ciência, o dia 11 de fevereiro chama atenção para dados que ainda são muito baixos, por exemplo: apenas 28% dos pesquisadores no mundo são mulheres, de acordo com os dados divulgados no último relatório da Unesco. Segundo a agência, essa porcentagem ocorre por diversos fatores: difícil acesso a investimentos; redes de estudos; questão racial; classe e gênero. Felizmente, é possível perceber um aumento geral no Brasil, ainda que discreto. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), houve aumento de mulheres com mestrado (2%), doutorado (3%) e na docência (5%) em diversas áreas do conhecimento no país, de 2004 a 2020.

“Para meninas e mulheres que querem entrar na ciência, eu sempre digo que não subestime sua capacidade. Submeta propostas independente de edital, da concorrência, acreditem que vocês são capazes. As empresas, entidades, órgãos que fomentam a pesquisa precisam ver que existem mulheres que fazem ciência no Brasil e habilitadas para realizar projetos fantásticos. Assim você vai abrindo caminho para que mais mulheres alcancem posições de destaque e virem referência para outras que estão almejando chegar lá”, comenta Thaísa.

Profissional e acadêmico em harmonia

Mayra Barral, graduada pela UFPA, inclusive entrou no mundo da ciência se inspirando em uma amiga. “Eu observei que, principalmente na área de ciências ambientais, havia profissionais cada vez mais capacitados, com graus altos de graduação e eu precisava correr atrás. Então uma amiga minha concluiu o mestrado dela e me inspirei nesse movimento dela para buscar novas possibilidades”, conta a engenheira ambiental que hoje atua como analista de Meio Ambiente na Hydro Paragominas, possui graduação sanduíche pela University of Ottawa, no Canadá e mestrado também pela UFPA.

A dissertação de mestrado de Mayra foi produzida, inclusive, dentro da própria Hydro Paragominas, unindo experiência profissional e acadêmica no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Barragem e Gestão Ambiental da UFPA. “Na minha carreira hoje eu vejo como a experiência profissional contribuiu muito para a acadêmica. Acho que o primeiro passo para uma mulher que está começando, lá na graduação, seja descobrir o que ela realmente gosta e avaliar como uma pesquisa do tema vai trazer resultados aplicáveis para a sociedade, atendendo demandas da indústria, por exemplo, e a solução da academia”, conclui.

Thaísa Michelan, por exemplo, hoje atua no monitoramento de plantas aquáticas na região da Hydro Paragominas, pesquisando sobre o padrão de ocorrência delas no ambiente. O projeto faz parte do Consórcio de Pesquisa em Biodiversidade Brasil-Noruega (BRC na sigla em inglês), que é formado pela Hydro, Universidade de Oslo, da Noruega, Museu Paraense Emílio Goeldi, UFPA e Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). “Nossa participação em projetos precisa desse incentivo, então eu sempre destaco a importância das empresas no fomento à pesquisa. A Hydro, por meio do BRC, contribuiu para a construção do laboratório, formação de vários alunos e abriu muitas portas para mim como pesquisadora. Esse foi um dos primeiros projetos que fui aprovada como coordenadora. Para a comunidade científica ela é extremamente importante para incentivar novas pesquisadoras”, explica.

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